quarta-feira, 18 de março de 2009

FEZ é tudo de bom!

Esse é Mohamed, nosso guia em Fez
Uma das estreitas vielas da Medina de Fez

folhinha de hortela no nariz, tanques de tinta atrás


Fé é fé



o fofo do Mabrouka




O trem de Casablanca pra Fez, cidade ao norte do país, leva cerca de 3-4 horas. Não me lembro, só me lembro que eu dormi bastante. A paisagem é linda. São planícies verdes e ao fundo as grandes montanhas Atlas com muita neve ainda do inverno passado. Uma delícia de viagem. Essa viagem pra Fez fizemos na segunda classe do trem, um pouco menos de conforto, mas super tranquilo. De vez em quando eu abria o olho pra ver a paisagem. Sandra e Magno tinham levado, cada um, dois livros sobre o Marrocos. Então passavam um bom tempo lendo e fazendo o tour da próxima cidade. Numa dessas vezes em que abri o olho, me deparei com um casal sentado ao meu lado. Dois franceses. Franceses dos bons, daqueles que você sabe que são franceses só pelo cheiro, se é que vocês me entendem. Eles também tinham uns livros sobre o Marrocos e, melhor que nós, tinham um mapa. O inevitável aconteceu. Começamos a conversar os cinco. Eles já tinham morado no Marrocos e sempre retornavam prá lá, adoravam várias cidades, a cultura etc. Estavam indo pra Fez como nós. Comentamos que ficaríamos apenas um dia em Fez e depois iríamos para Rabat. A francesa ficou super decepcionada. Rabat não tem nada, dizia ela. Vocês já leram o que os livros falam de Rabat? Perguntava ela. E de fato, um dos livros fazia a seguinte menção a Rabat:"Rabat é uma cidade menos agitada que Casablanca, menos arquitetonica e cultural do que Fez, menos intensa do que Marrakech..." Ou seja, em poucas palavras, Rabat é a cidade "menos" do Marrocos, e resolvemos ali naquele instante que Rabat estava fora do nosso roteiro. Essa foi a grande dica dos franceses e por isso valeu cada minuto de suplício ao lado do casal...


Finalmente chegamos a Fez e ao nosso lindo riad (pousada em árabe): o Dar Mabrouka. Fomos recepcionados por um serviçal daqueles bem antigos, trazendo um chá de hortelã nos copinhos que não pude resistir em comprar iguais aqui pra casa. Ele estava vestido com um jelaba (roupa comprida) preta, tinha o cabelo prá trás, e falava o mínimo possível de inglês. Sempre num tom muito cordial e baixo. Um fofo. A foto dele to postando aqui. Logo após esta recepção agradável, veio o Michel, dono do Riad, falar conosco. Nossa que homem educado! Eu acho que to andando com homens muito pouco educados ultimamente, por que a educação dele, o trato, a preocupação com detalhes da nossa viagem, me impressionou mais do que a Sandra e Magno. Michel foi um gentleman, nos colocou num dos melhores quartos do Riad e lá foi, sem dúvida alguma, onde comi a melhor salada de fraises (morangos) da minha vida!


Fez foi a primeira capital do Marrocos (pelo menos foi isso que eu entendi...). Era mais perto da Europa e de Tangier, cidade portuária do Gibraltar. Ali perto estão Voluibilis, Moulay Idriss e Meknes, todas cidades históricas do Marrocos com tradições milenares.


Na nossa primeira tarde em Fez conhecemos Mohamed, nosso guia poliglota, que nos levou para conhecer a medina de Fez. Demorou um pouco até entendermos bem o que era a Medina. Então vou explicar o que eu entendi e vi. A Medina é uma cidade fechada, com muros altos e alguns grandes portões, carinhosamente chamados de Bab (portões em árabe, to mandando bem no árabe!!). Nos séculos passados (e bota século nisso) eram necessários os muros por conta dos confrontos que existiam, principalmente entre os berberes (bárbaros espanhóis e italianos). As pessoas ficavam protegidas. Ao longo do processo de ocidentalização do Marrocos, as cidades foram crescendo e o turismo vem sendo fortemente incentivado, principalmente após a coroação do rei Mohamed VI. Esse rei suspendeu leis absurdas que só atrasavam o desenvolvimento do país, como por exemplo, mulheres só poderiam ficar na rua até as 21 hrs. A medina passou a ser o grande centro comercial das cidades. Algumas pessoas moram ali para não terem custos e também por que é barato. Não é um lugar para circular a noite. Esse nosso Riad era bem na saída da Medina, mas não era lá dentro. No dia que chegamos fomos lá com Mohamed. Algo muito difícil é conhecer a medina sem o auxilio de um guia, pelo menos na primeira vez. As vielas são muito apertadas, tirei foto numa que a largura não era maior que 70 cm. Os muros são altos e todos os lugares tem um tom ocre. Vimos lojas de tapetes, óleos, colchas, almofadas, uma infinidade de trabalhos artesanais. Fomos ver o trabalho nos tanques e lá o dono falou que conheceu a Giovana Antonelli, ela gravou o Clone lá na loja dele. Muito interessante essa ida aos tanques para tingir o couro: a tinta é misturada ao excremento de pombos (imagina euzinha com a minha pombofobia nesse lugar), já que o excremento é um produto natural nessa arte. Por conta disso o odor é insuportável, então logo quando chegamos o dono nos deu um pedaço de hortelã. Eu botei no bolso, depois que entendi que era pra botar no nariz pra não sentir o cheiro. Foi uma delícia de tarde, voltamos pro riad e fomos jantar no Palácio de Fez. E foi nesse jantar que eu constatei que o mundo é mesmo um banheiro: Magno, amigo da Sandra que eu vi pela primeira vez em Casablanca, foi aluno da minha irma no curso de fotografia. Fotos desse jantar são fundamentais. Uma degustação de várias saladas, pratos de cuscus e tagine, e por fim, um super chá de hortela pra dormir tranquilo.

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