quarta-feira, 25 de março de 2009

Meknes e Voluibilis

Dentro da Mesquita de Meknes
Moulay Idriss surrounded...
Barradas na Mesquita
Patricia e os 12 trabalhos de hercules - voluibilis
Esse é o passeio pelo qual se faz necessário ficar pelo menos dois dias em FEZ. O dia estava lindo, o céu azul, azul, um friozinho gostoso. Acordamos no nosso lindo riad (nas historias de Marrakech vocês vão entender por que sempre falo MUITO bem do riad de Fez) e comi no café da manha a salada de morangos mais gostosa da minha vida! Nosso guia chegou cedo, no entanto tinha um probleminha básico: ele só falava francês e árabe. Francês somente Magno falava, eu e Sandra somente merci, pardon, je suis bresilien...e árabe nem pensar! Então pedimos para vir um guia que falasse ao menos, inglês, ou espanhol. Nós ficamos mal acostumados com Mohamed que era poliglota. Aí veio o irmão desse guia, aquele que veio a ser o nosso querido Majub. Majub era na verdade um bom motorista, não sabia direito nada e tampouco falava um ótimo inglês, mas as vezes dava a impressão que ele entendia alguma coisa de espanhol, por que ria das besteiras que falávamos. Depois de 30 minutos no carro percebemos que se tivéssemos ficado com o irmão dele, mesmo só no francês e Magno na tradução simultânea, teríamos ganho mais no quesito conhecimento cultural. Mas ok, como diz meu chefe, such is life.
Nossa primeira parada foi em Voluibilis. Voluibilis foi uma cidade há muitos séculos atrás, completamente destruída pelos bárbaros. Hoje tem somente ali ruínas, ruínas e ruínas. Muito interessante é o estado quase perfeito dos mosaicos ao chão definindo os 12 trabalhos de hercules. Majub ficou no carro enquanto a gente fazia o circuito da cidade.
De lá passamos em Moulay Idriss. Gente falando muito sério, eu não ia nem contar essa história mas o Magno me lembrou de algo surreal que aconteceu lá. Primeiro que, até onde eu consegui entender que Majub explicou, Moulay Idriss foi a primeira mesquita árabe do Marrocos, há muitos e muitos séculos atrás, e tem o único minarete redondo do país. Foi reformada há alguns anos. Moulay fica no meio do nada, entre Voluibilis e Meknes, quer dizer, ficava no meio do nada. Agora em volta dela foi crescendo a Rocinha do Marrocos e simplesmente é impossível chegar até a Mesquita sem passar por dentro da "Galera". A foto que eu to postando aqui de moulay dá pra ver bem as casinhas em volta. É um lugar que impressiona, todos que vivem ali, vivem esperando pessoas como nós para chegar ali e dar a eles 1 euro para percorrer os caminhos até o teto de uma casa (barraco) em que tiramos a foto.
O detalhe é que quando chegamos a Moulay com Majub, fomos tirar uma foto na entrada da mesquita onde tinha uma trava de madeira (vou tentar postar essa foto também), proibindo não muçulmanos de entrarem na mesquita. De repente apareceu um cara falando assim: aaahshhnn nhinannnnn...juro...o cara era surdo mudo e ruim da cabeça, mas ele queria mostrar a Moulay pra gente e ganhar 1 euro. Isso é muito deprimente. No Brasil em muitos lugares não é diferente, mas ali fiquei muito deprimida pela situação. O Marrocos em nenhum momento pareceu um país com oportunidades como tem o Brasil. Bom e não tem mesmo. E acho que isso faz diferença. Bom, resumindo o moço subiu e desceu com a gente em vários lugares até que nos levou para tirar uma boa foto de Moulay. Majub traduziu pra gente o intraduzível que era o que o outro balbuciava em árabe. Realmente uma cena surreal. Fomos embora e obviamente deu a maior confusão na hora de pagar o 1 euro do cidadão.
De lá fomos para Meknes e foi tudo no passeio. Entramos na famosa Mesquita (finalmente pudemos entrar numa), fizemos todo o ritual, tiramos o sapato, andamos pelos tapetes. Muito legal a experiência. Outra experiência bem interessante foi o uso do banheiro público na praça central. Era um banheiro "orgânico". Do lado do buraco "orgânico" tinha um balde com água e uma pá pra "limparmos" depois de usá-lo. Mais interessante que esse banheiro, só o do trem que dava pra ver os trilhos pelo buraco.
No final do dia voltamos pra Fez e jantamos no Riad. Dia seguinte: a tão famosa Marrakech após 8 horas de viagem de trem!!

quarta-feira, 18 de março de 2009

FEZ é tudo de bom!

Esse é Mohamed, nosso guia em Fez
Uma das estreitas vielas da Medina de Fez

folhinha de hortela no nariz, tanques de tinta atrás


Fé é fé



o fofo do Mabrouka




O trem de Casablanca pra Fez, cidade ao norte do país, leva cerca de 3-4 horas. Não me lembro, só me lembro que eu dormi bastante. A paisagem é linda. São planícies verdes e ao fundo as grandes montanhas Atlas com muita neve ainda do inverno passado. Uma delícia de viagem. Essa viagem pra Fez fizemos na segunda classe do trem, um pouco menos de conforto, mas super tranquilo. De vez em quando eu abria o olho pra ver a paisagem. Sandra e Magno tinham levado, cada um, dois livros sobre o Marrocos. Então passavam um bom tempo lendo e fazendo o tour da próxima cidade. Numa dessas vezes em que abri o olho, me deparei com um casal sentado ao meu lado. Dois franceses. Franceses dos bons, daqueles que você sabe que são franceses só pelo cheiro, se é que vocês me entendem. Eles também tinham uns livros sobre o Marrocos e, melhor que nós, tinham um mapa. O inevitável aconteceu. Começamos a conversar os cinco. Eles já tinham morado no Marrocos e sempre retornavam prá lá, adoravam várias cidades, a cultura etc. Estavam indo pra Fez como nós. Comentamos que ficaríamos apenas um dia em Fez e depois iríamos para Rabat. A francesa ficou super decepcionada. Rabat não tem nada, dizia ela. Vocês já leram o que os livros falam de Rabat? Perguntava ela. E de fato, um dos livros fazia a seguinte menção a Rabat:"Rabat é uma cidade menos agitada que Casablanca, menos arquitetonica e cultural do que Fez, menos intensa do que Marrakech..." Ou seja, em poucas palavras, Rabat é a cidade "menos" do Marrocos, e resolvemos ali naquele instante que Rabat estava fora do nosso roteiro. Essa foi a grande dica dos franceses e por isso valeu cada minuto de suplício ao lado do casal...


Finalmente chegamos a Fez e ao nosso lindo riad (pousada em árabe): o Dar Mabrouka. Fomos recepcionados por um serviçal daqueles bem antigos, trazendo um chá de hortelã nos copinhos que não pude resistir em comprar iguais aqui pra casa. Ele estava vestido com um jelaba (roupa comprida) preta, tinha o cabelo prá trás, e falava o mínimo possível de inglês. Sempre num tom muito cordial e baixo. Um fofo. A foto dele to postando aqui. Logo após esta recepção agradável, veio o Michel, dono do Riad, falar conosco. Nossa que homem educado! Eu acho que to andando com homens muito pouco educados ultimamente, por que a educação dele, o trato, a preocupação com detalhes da nossa viagem, me impressionou mais do que a Sandra e Magno. Michel foi um gentleman, nos colocou num dos melhores quartos do Riad e lá foi, sem dúvida alguma, onde comi a melhor salada de fraises (morangos) da minha vida!


Fez foi a primeira capital do Marrocos (pelo menos foi isso que eu entendi...). Era mais perto da Europa e de Tangier, cidade portuária do Gibraltar. Ali perto estão Voluibilis, Moulay Idriss e Meknes, todas cidades históricas do Marrocos com tradições milenares.


Na nossa primeira tarde em Fez conhecemos Mohamed, nosso guia poliglota, que nos levou para conhecer a medina de Fez. Demorou um pouco até entendermos bem o que era a Medina. Então vou explicar o que eu entendi e vi. A Medina é uma cidade fechada, com muros altos e alguns grandes portões, carinhosamente chamados de Bab (portões em árabe, to mandando bem no árabe!!). Nos séculos passados (e bota século nisso) eram necessários os muros por conta dos confrontos que existiam, principalmente entre os berberes (bárbaros espanhóis e italianos). As pessoas ficavam protegidas. Ao longo do processo de ocidentalização do Marrocos, as cidades foram crescendo e o turismo vem sendo fortemente incentivado, principalmente após a coroação do rei Mohamed VI. Esse rei suspendeu leis absurdas que só atrasavam o desenvolvimento do país, como por exemplo, mulheres só poderiam ficar na rua até as 21 hrs. A medina passou a ser o grande centro comercial das cidades. Algumas pessoas moram ali para não terem custos e também por que é barato. Não é um lugar para circular a noite. Esse nosso Riad era bem na saída da Medina, mas não era lá dentro. No dia que chegamos fomos lá com Mohamed. Algo muito difícil é conhecer a medina sem o auxilio de um guia, pelo menos na primeira vez. As vielas são muito apertadas, tirei foto numa que a largura não era maior que 70 cm. Os muros são altos e todos os lugares tem um tom ocre. Vimos lojas de tapetes, óleos, colchas, almofadas, uma infinidade de trabalhos artesanais. Fomos ver o trabalho nos tanques e lá o dono falou que conheceu a Giovana Antonelli, ela gravou o Clone lá na loja dele. Muito interessante essa ida aos tanques para tingir o couro: a tinta é misturada ao excremento de pombos (imagina euzinha com a minha pombofobia nesse lugar), já que o excremento é um produto natural nessa arte. Por conta disso o odor é insuportável, então logo quando chegamos o dono nos deu um pedaço de hortelã. Eu botei no bolso, depois que entendi que era pra botar no nariz pra não sentir o cheiro. Foi uma delícia de tarde, voltamos pro riad e fomos jantar no Palácio de Fez. E foi nesse jantar que eu constatei que o mundo é mesmo um banheiro: Magno, amigo da Sandra que eu vi pela primeira vez em Casablanca, foi aluno da minha irma no curso de fotografia. Fotos desse jantar são fundamentais. Uma degustação de várias saladas, pratos de cuscus e tagine, e por fim, um super chá de hortela pra dormir tranquilo.

Casablanca não vale a pena

10 minutos depois da foto abaixo, Patrícia e Sandra na estação de trem certa...UFA...
Sandra e Magno felizes, uns 10 segundos antes de percebermos que estávamos na estação de trem errada...

Aqui Magno tira a malinha dele de cima do petit taxi


Esse post é muito importante. Se você já foi ao Marrocos vai entender (e concordar). Se não foi, não pode esquecer. A questão é simples: Casablanca não vale a pena. É a capital econômica do país, mas nem parece isso. É suja, mal organizada, atrasada em relação à outras cidades do país. Aliás, o Marrocos tem muitas capitais. A capital oficial do país é Rabat. O rei Mohamed VI mora lá. Fez é a capital cultural, e já foi capital oficial no passado. Sabe aquela coisa de rei que quer agradar a todos, gregos e troianos, pois é, saiu nomeando um monte de cidade como capital disso e daquilo. Como o Marrocos é um país muçulmano, as mesquitas são grande atração. São construções lindas e antigas. Como nós não somos muçulmanos, não podemos entrar nas mesquitas. Mas no Marrocos existem duas mesquitas em que é permitida entrada de não-muçulmanos: a mesquita de Meknes e a mesquita do rei Hassan, em Casablanca. Passamos por lá a noite, estava toda iluminada. Realmente é uma beleza, toda trabalhada no mosaico, uma imensidão para abrigar toda a multidão que passa por ali. Mesmo sabendo que Casablanca é tão feia que nem o filme que leva o seu nome foi feito lá, nós, os três teimosos, resolvemos ir a Casablanca. Mas foi só uma noite literalmente. Nessa noite fomos jantar no Ricks Café. Não posso negar que a comida é maravilhosa. Nesse dia comi o primeiro de muitos cuscus marroquinos. Talvez antes da próxima reencarnação volte a comê-los, talvez...As saladas marroquinas valem a pena, até mesmo em Casablanca. São maravilhosas! Eles fazem um tempero nas beringelas e nas beterrabas, nossa! Olha que eu nem sou tão fã de salada, mas são maravilhosas! Foi um jantar muito agradável, na saída pegamos um petit taxi... no Marrocos tem dois tipos de taxi: o petit taxi e? e? e? adivinhem! O grand taxi!!! E de fato a única diferença é essa mesma...um é uno mille e o outro é uma mercedes velha pra cacete.
Depois de uma noite em Casablanca com tempo suficiente para concluir que nada ali valia a pena, acordamos as 7 em pleno domingão e rumamos para estação de trem pra pegar o primeiro para Fez. Quase deu errado. Se não tivéssemos percebido 10 minutos antes do trem partir que não era aquela estação que tínhamos que ir...se não tivesse um petit taxi bem ali na porta e se...não tivéssemos corrido que nem loucos pela estação de trem, e obviamente, se os trens no Marrocos saíssem no horário rigoroso como na europa, certamente teríamos passado mais algum tempo em Casablanca. Mas Mohamed não quis assim. E lá fomos nós para Fez...

Mais do Marrocos

O trio visitando a mesquita em Meknes
Nosso primeiro jantar em Casablanca, no restaurante Ricks Café, que era o tema do filme que leva o nome da cidade, e que nunca foi filmado lá...



Todos os dias a noite desde que cheguei fico pensando que tenho que contar aqui as histórias (mucho loucas) do Marrocos, mas desde que cheguei, já cheguei atrasada. O dia não passa, voa. 24 horas não são suficientes. Mas hoje estou determinada a contar pelo menos algumas passagens, como o guia surdo-mudo em Moulay Idriss, a Mercedes do Fred Flinstone e o casal de franceses que mudou o rumo de nossa viagem. Vamos ver seu eu consigo. Antes de entrar nos textos, mais algumas fotos minhas.