Eu já sabia que aquela quinta feira não seria fácil, a começar pela discussão sem pé nem cabeça que tivemos entre 1h e 3h da manhã, depois de ambos chegarem de baladas distintas...Na quarta eu tinha acordado as 6h para vir para SP ter 3 reuniões, ou seja, as 3 hrs da manhã de quinta já não tinha condições psico-físicas para nada...As 7 hrs levantei para pegar o avião de volta ao Rio, marcado para as 9h, que acabou saindo quase 10 hrs...Já estava chegando no Stos Dumont, vi o finger e o gate muito próximos, o tempo estava claro mas nublado, quando de repente, o avião arremeteu!! Quase chegando em Saquarema o piloto explicou que o vento na cauda era superior a 0% e aí não arriscou...isso foi o que ele disse, o que, obviamente para qualquer um que não tenha nada a ver com ANAC, DAC, essas siglas da "moda", não entendeu nada. E sinceramente o que bem pareceu foi que o piloto "perdeu" o timing na descida e como a pista é curta não quis arriscar. Melhor não arriscar mesmo. Aquilo só me deu mais certeza que aquela quinta feira prometia...toda essa angústia girava em torno de uma reuniao marcada há duas semanas para aquela tarde. A reunião era com um agente do Rio cuja fama pelos palavrões, gritos, estórias baixas passam de gerações em gerações no poder...eu me recordava dele na época que ficava somente no Rio, mas naquela época o crescimento era devastador, sem grandes concorrências. Ele já havia pedido uma reunião comigo no meio do ano passado, mas como sabia desse por menor, declinei e deixei claro para a área comercial que não ia me reunir com ele pela única razão de não querer participar da baixaria. Afinal, eu sou da convicção que algumas coisas na vida a gente já não precisa passar.
Os comerciais, que não são fáceis, durante os últimos seis meses, falaram prá ele que eu era quase uma beata, usava saião até o tornozelo, camisa fechada, rabo de cavalo e me benzia cada vez que alguem falava "porra"...reunião comigo, só sem palavrão e baixaria. Ele concordou, disse até que assinaria um termo...bom essa era a reunião que me incomodava e que agora me pergunto se não foi essa energia canalizada que fez o avião arremeter.
A reunião começou e vimos logo que tínhamos um amigo em comum. Pessoa simpática, bem vestido, queimadão de praia. Começamos as discussões, algo em torno de uma milha. Argumenta dali, argumenta daqui, quero receber, não vou pagar. Umas duas horas de reunião e realmente o sujeito não soltou nem "porra", acho que ele realmente acreditou nessa estória. E de repente (de novo neste dia) não foi o avião dessa vez mas o sujeito que deu uma arremetida...o homem começou a chorar!!! É isso mesmo!!! Ele chorou de sair lágrimas grossas, dos dois olhos!! E nessa hora sim, ele soltou todos os palavrões que estavam entalados (a seguir um trechinho curto logo das primeiras palavras prá não sujar muito meu blog) - puta que pariu caralho cara trabalhei pra caralho, que nem filho da puta pra fazer essa merda e agora vocês tão nessa putaria comigo - gente, foi acho que uma das situações mais constrangedoras da minha vida, olhei pra todos que estavam ali, tinha mais 2 gerentes de divisão e 2 consultores além de outro diretor via audio, todos de cabeça baixa, aquele homem de quase 40 anos, chorando que nem um bebe, putz...bom, a bem da verdade, se eu tivesse um buraco de uma milha também ia entrar chorando em qualquer reunião. Depois de alguns minutos o cara pediu desculpas, se recompôs enxugando as lágrimas no guardanapo que tava embaixo do copo dagua. Eu pedi um chá prá ele. Continuamos a reunião mais algum tempo depois encerramos.
Aquilo me arrasou. As pessoas falaram que eram lágrimas de crocodilo, mas eu não acredito, não eram. Acho que era desespero mesmo. Desci pra garagem e me lembrei que estava sem carro, pois tinha vindo do aeroporto direto. Subi e peguei um taxi. O desgraçado do taxista era um ex funcionário do governo, ficou cerca de 40 minutos (tempo até minha casa) falando da situação dos assistencialistas, do ticket leite, do vale de R$100,00, da necessidade de comprovação da titularidade, se precisa ou não...eu fui o mais seca possível, as minhas respostas eram "é", "sim", "aham", as vezes invertia a ordem delas mas não saía disso. Fingi que o celular tocou, atendi, falei algumas coisas e desliguei e ele continuou a falar!!!
Eu juro que, passando pela Niemeyer, eu pensei, eu mereço isso? O que será que eu fiz para merecer um dia como esse?
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